
O DESAPARECIMENTO do bailarino, coreógrafo e professor Augusto Cuvilas constitui uma perda irreparável para o mundo da dança de Moçambique e de Moçambique e de outros pontos do continente e do mundo que tiveram a oportunidade de apreciar e partilhar os seus trabalhos.
O director da Companhia Nacional de Canto e Dança (CNCD), David Abílio, disse que Augusto Cuvilas não era uma promessa, mas certeza numa arte
A quantidade – e qualidade - de trabalhos que Augusto Cuvilas deixa na Companhia Nacional de Canto e Dança, no país e no mundo como legado faz dele um dos maiores coreógrafos do continente africano.
Por outro lado, o prémio que arrecadou como bailarino de África e do Oceano Índico é revelador da importância que Augusto Cuvilas tinha para o mundo do canto e da dança.
Na Companhia Nacional de Canto e Dança, Cuvilas não só foi coreógrafo e bailarino, mas também, sobretudo, professor. “Isso significa que o nível técnico ostentado hoje pela nossa Companhia é devido à sua persistência. Augusto Cuvilas trabalhou para elevar o nível dos seus colegas, isto desde os primeiros momentos em que ainda era estudante
De acordo com David Abílio, quando a CNCD completou 15 anos, Augusto Cuvilas ganhou uma bolsa para ir fazer a licenciatura em dança, tendo sido essa sua bagagem que se aplicou na comemoração dos anos da CNCD. “Augusto Cuvilas orientou trabalhos para os 20 anos e sob sua direcção outra vez continuamos a caminhar com sucesso”.
Ganhou ainda bolsa de estudo para fazer o mestrado em dança, tendo depois regressado à Companhia como director artístico, cargo que ocupou até recentemente.
“Para nós parecia que estava a prever o fim dele. Quando no ano passado criou a obra ‘El Tango dela muerte’ (O Tango da Morte) que ele próprio interpretou e no mês passado criou a obra ‘Ponto e Final’. Isso perturba-nos bastante e é mais ainda doloroso porque foi uma morte muito violenta”, disse o director da CNCD.
No nosso país, David Abílio, a dança ainda não é tida como uma expressão artística elevada, como o são a literatura, a música e as artes plásticas, mas “é importante ressalvar que Augusto Cuvilas era a figura mais consagrada fora do país porque é um dos poucos mestrados em África e dos coreógrafos mais inteligentes. É por isso que os franceses tinham feito uma grande aposta nele, pois viram que ele tinha uma visão ampla das coisas e que estava a elevar a dança para o estatuto mais alto no nosso país e no continente africano. É lamentável”.
Para o artístico plástico, professor de arte e curador do Museu Nacional de Arte Jorge Dias, a morte de Augusto Cuvilas constitui uma perda para o mundo da criação, particularmente para o das artes cénicas. Augusto Mateus Cuvilas era um coreógrafo ímpar e inigualável, daí que a sua morte vai criar um vazio muito grande a nível das artes moçambicanas.
“Augusto Cuvilas era um daqueles coreógrafo que ultrapassava os limites da dança. O seu trabalho permite que todos os artistas visuais se alimentem nas suas coreografias. São coreografias transversais a nível dos suportes, linguagens e conceitos”, disse Jorge Dias.
O curador do Museu Nacional de Arte diz que vê nas coreografias de Augusto Cuvilas material denso e que permite a sociedade moçambicana continuar a alimentar-se na componente do canto e da dança, bem como para além dos limites da dança.
“Os últimos trabalhos de Cuvilas são mais subjectivos e bastante interventivos, a nível social, cultural e político”, sublinhou Dias.
De acordo com a directora nacional adjunta da Cultura, Cândida Mata, a morte de Augusto Cuvilas constitui um revês bastante grande a nível nacional e africano, pois este é um jovem que há muito havia ultrapassado as fronteiras de Moçambique.
Augusto Cuvilas é um jovem que iniciou na nossa Escola Nacional de Dança, onde bebeu de tudo o que havia. Posteriormente ganhou uma bolsa para ir estudar em Cuba, “porque vimos que havia nele muito ainda por explorar. Agora só estávamos à espera que ele continuasse a nos oferecer aquilo que aprendeu, algo que até estava a fazer muito bem”.
Cândida Mata referiu-se ao facto de Cuvilas ter trabalhado para lá de Moçambique. Ele trabalhou também para o continente africano e para o mundo. Era um modelo para nós e um símbolo da dança tradicional e contemporânea à escala continental.
“E numa situação em que ainda não temos ainda muitos artistas formados perdermos uma figura como o Augusto Cuvilas é bastante doloroso. Cortaram-nos os braços e as pernas. A família africana a nível da cultura, particularmente da dança, está de luto. Acho que temos que pensar numa forma de homenagear o Cuvilas, fazendo uma coreografia à si dedicada. Penso também que a Companhia Nacional de Canto e Dança também fará isso como uma forma de o recordar e perpetuar o seu nome”, disse Cândida Mata.
Foto: Arquivo Jornal Noticias
Texto de: FRANCISCO MANJATE