novembro 27, 2007

KARINGANA WA KARINGANA…

Karingana Wa Karingana. Sempre foi assim, esse é o marco da nossa tradição da oralidade… assim se contavam as estórias à volta da fogueira.

Karingana Wa Karingana. Assim foi como Mingas terminou o espectáculo de consagração dos seus 30 anos de carreira que, infelizmente, deram para apenas em um CD ela apelar “Vuka Africa” (acorda África!).

Pois então… Karingana Wa Karingana (Era uma vez), uma carreira de 30 anos contada, alias cantada, briosamente, numa só noite, num espaço de quase três horas… Num espectáculo de canto e dança maravilhosamente produzido (pelo mano, cada vez mais mestre, Jimmy Dludlu) e interpretado (pela orquestra moçambicano-sul-africana que acompanhou Mingas – deixo para o Ouri Pota os pormenores técnicos de quem esteve num e noutro instrumento), Mingas resumiu o brilho de uma carreira que ainda vai dar muito…porque ela é a voz feminina de top da música moçambicana… o que já a relega perigosamente para o universo das Divas.

Era uma vez, um espectáculo cinco estrelas, aliás, para deliciar os cinco sentidos:

- A visão (a cor, luz e “confettis” que decoraram o palco, as vestes afro “made in projecto Maciene da FDC” que serviram de traje aos artistas em palco e, porque não, o espectáculo em si que Mingas e as bailarinas da CNCD na arte de dançar)

- A audição (os sons oferecidos pelos instrumentistas e pelos coristas, Naldo, Sheila Jesuíta e Xizimba, a passagem de uma para outra música e a mudança de ritmos e compassos sem quebras…exemplarmente dirigidas pelo “toque de Midas” de Jimmy…para deleite de bons ouvidos, ouvidos adultos)

- O tacto (quem não pode tocar Mingas e sua banda, tocou-se mexendo-se e remexendo-se na dança, cá nas bancadas…porque a noite foi de boa marrabenta, que alguns entraram mesmo em transe…outros julgaram que estavam a levitar…outros atingiram o Nirvana!)

- A fala (pelo canto, belo canto…de Mingas e acompanhada em coro por quase toda assistência, até mesmo por aqueles que de chope, changane e ou ronga pouco entendem)

- O paladar (quem não saboreou os matori-tori oferecidos pela produção lá mesmo para o fim, saiu do “Franco” sem poder dizer com toda a propriedade que “É uma Delícia!”)

Era uma vez, um espectacular… espectáculo que começou a calar-nos “de profundis”, em “valsa lenta” com o jubilado “A Wasati Va Lomu” e depois percorreu todos os temas “hit” de e/ou interpretados por Domingas Salatiel Jamisse ao longo de 30 anos de música, quais “N’weti” (pra marrabentar), e as baladas “Mamana” e “Alirandzo”, “Uta Ti Sola”, “Vuka Africa”…e depois teve aquele momento fenomenal de duas vozes sonantes, contrastantes mas não dissonantes em Duo…com Dua, essa voz “bluesy” sem igual no panorama musical moçambicana com o enternecedor “Ainda És Meu Irmão”!

E, como em todas as estórias da tradição oral moçambicana, a noite de sagração dos 30 anos da carreira musical de Mingas terminou apoteoticamente com “Karingana Wa Karingana, ho-ho-ho karingana/xikongolotwana, hum ka mamane/”… num baile marrabentado que mereceu o pedido de “bis” do público, a que Mingas e a sua banda viraram-se proibidos de dizer não. E dissemos que o espectáculo terminou como começam os contos da nossa tradição, ou como começa a tradição dos nossos contos. Sim, terminou como se começa (Karingana Wa Karingana) precisamente porque cremos que aquela noite marcou o recomeço da carreira de Mingas, que muito tem a dar aos moçambicanos e a África musicalmente.

Aliás, Mingas deve-nos a todos um álbum em que reuna N’weti, A Vasati Va Lomu, Alirandzo, Karingana Wa Karingana e outros temas velhos e novos que queremos ter nas nossas discotecas de casa, de família, porque Mingas tem muita mensagem para essa família Africana que somos…

Karingana Wa Karingana…era uma vez um espectáculo espectacularmente produzido, dirigido e interpretado para o qual não há palavras o suficiente para caracterizá-lo, senão o refúgio em uma palavra para qualificar a nossa incompetência em narrá-lo de tão deslumbrados: inefável! Kanimambo, Mingas!

P.S:
Jojó (teclados), Bokani (piano), Jorge César, Simão Nhancule e Rolando (Percussão, Stélio (bateria), Dodó (guitarra),Carlos Gove (viola baixo), Ivan Mazuze e Neil (Saxofone), Xizimba, Sheila Jesuíta e Naldo (coros).

Texto: Milton Machel (do blog Estado da Media)

Fotos: Ouri Pota

2 comentários:

Nércia disse...

Admirei a capacidade que tu tens de escrever tao bem e de nos fazer reviver o tempo que ouviamos historias a volta da lareira.
Mingas soube interpretar maravilhosamente bem nas suas cancoes e tu nas tuas palavras.
sucessos.

mãos disse...

Obrigada Nercia.

Peço desculpas. Esta linda escrita pertence ao Meu amigo e colega Milton Machel do blog (http://www.fanaticodemedia.blogspot.com).

Contudo obrigado pela visita. vou colocar o nome do autor no blog, é pra já.

Textos: Mlton Machel
Fotos: Ouri Pota