junho 27, 2007

O GOLO QUE METEU O ÁRBITRO

Que a guerra, terminada com a assinatura do Acordo Geral de Paz em Roma, pariu, de entre tantos males, vários mutilados, não constitui dúvida nem novidade para ninguém, sendo a vida destes, nos bairros, nas aldeias, nas vilas e nas cidades, algo que tem criado alguns casos, insólitos na sua maioria.

Quando Komandu recebeu a sua primeira pensão, trouxera da cidade uma bola de futebol, novinha em folha, para animar os sábados do Centro de Acolhimento de Mutilados de Guerra.

No sábado seguinte, o jogo entre os Balalaza e os Valentes terminara antes dos noventa minutos. Tudo porque Fernando Coto, não Couto, entrou velozmente na grande área e deu um salto, tentando cabecear a bola para o fundo das malhas da baliza dos Babalaza.Mas, devido à escassez da sua altura, quase não conseguia chegar ao esférico. Para emendar a falta, levantou o braço amputado e, pelo Coto, enviou a bola para o fundo das redes. A bancada gritou golo, sob o apito do árbitro, que o invalidou.

- Que mão está esse gajo a apitar? Por acaso viram vocês uma mão tocar na bola? – perguntou uma voz da assistência.

- Mão é o que falta ao Fernando para levar à bola. – completou outra.

- Se tivesse mãos seria ele o nosso guarda-redes.

- Este tipo não serve para apitar nada.

- Deixa – se comprar por litro de sura!

- Surra é o que ele vai apanhar agora!

Os adeptos dos Valentes invadiram as quatro linhas, para acertar as apitadelas do árbitro, à pancada.Insatisfeitos ainda com as bofetadas dadas, meteram-no no fundo de um poço abandonado, para lavar o juízo. Coisa conseguida, pois, daí até ao final do torneio, Fernando Coto contou oito golos marcados, com o coto!

E na hora de receber o troféu de melhor marcador, por sinal um exemplar do Novo Testamento, Coto enfatizaria: “como qualquer conflito armado, a guerra ora terminada entre nós foi insana e toda a tentativa ou intenção de a ela se regressar, herege!”

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Texto extraido da obra O GOLO QUE METEU O ÁRBITRO,
Autor Aurélio Furdela, Editora AEMO

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