setembro 09, 2008

O QUE OS HOMENS PENSAM?


O que os homens pensam?


Por PC Mapengo


O que os homens guardam em segredo? Ou quais são as inconfidências dos homens? O título do filme o que as mulheres pensam, podia ser transladado para este livro da Rosa Langa como o que os homens pensam. Ela se atira aos machos para satisfazer as suas curiosidades. Ou é curiosidade das mulheres? A pergunta, baseada em alguns temas levantados como o que os homens sentem quando perdem a virgindade, podia ser o que os homens sentem? Falamos de uma obra que começa com o sonho de se voltar ao socialismo e desliza por assuntos sobre a traição, prostituição e fama.


Teria sido propositado começar o livro com uma entrevista ao Marcelino dos Santos e trazer uma foto em que o velho socialista está com Joaquim Chissano? Uma espécie de entrevista com a história não pode ser vista como obra do acaso. Aliás Rosa Langa não faz nada por acaso.

As Inconfidências Dos Homens, mostra essa sua vertente provocadora que procura deixar claro que os homens guardam segredos que para os descobrir só ao escopro e, por vezes, martelo. Mas essa é a natureza dos homens e mulheres.


Mesmo depois do livro sair da gráfica o lado provocador da jornalista se estendeu para o programa de Emílio Manhique na Rádio Moçambique: é difícil perceber os homens. Mesmo não sendo original, a frase soa a diferente por ter sido séculos uma propriedade machista perante a eterna confrontação homem vs mulher.


SONHO SOCIALISTA DO POETA

Falava do começo.

As Inconfidências Dos Homens, é uma obra sobre algumas das personalidades masculinas que contribuíram, de um jeito qualquer, para a identidade cultural moçambicana, o que Nelson Saúte chamaria de habitantes da memória. Abrir com Marcelino dos Santos vai para além de uma simples provocação ao leitor para descobrir os segredos que os homens não contam. E a segunda pergunta mostra o tipo de entrevista que a jornalista se preparara para ter com o velho Kalungano:

-Poeta Kalungano, ainda é poeta? Se fosse a uma outra pessoa esta pergunta da Rosa Langa seria descabida. Porquê perguntar a um poeta se ainda é poeta? Nos leva a uma viagem pelo pensamento e pela história para além do óbvio. O que é necessário para se ser poeta? O que faz de poeta um poeta? O que nos dá esse estatuto? O melhor é marcar mil golos como Pelé ou marcar um golo como Pelé? Perguntaria o poeta Carlos Drummond de Andrade.

Voltamos ao tempo da liberdade. A poesia era mais de que uma necessidade romântica para amolecer a alma da pessoa amada. Era uma arma letal e os que a exibiam descaradamente pelas ruas colónias tinham direito a PID/DGS nas costas e um confinamento nos calabouços até mesmo uma conversa violenta com o temido Chico Feio.

- Poeta Kalungano, ainda é poeta?

A resposta não podia ser mais… clara.

-Sim, felizmente.

Mas o próximo livro, esse… Sei lá…

Dizer sei lá nos retorna aos segredos, às inconfidências. O tempo esse que faça o que quiser porque o poeta revolucionário ainda tem outros planos:

-Último desejo, camarada Marcelino… - convida Rosa Langa

- Construir o socialismo em Moçambique. – Responde Marcelino.

Neste ponto voltamos ao princípio:

- Poeta Kalungano, ainda é poeta?

Ainda é poeta sim, o seu livro pode sair a qualquer altura mas o importante é … reinventar os caminhos para o socialismo.


REGRESSO CANCELADO

A outra entrevista pode aparecer agora como uma grande homenagem a um dos maiores nomes da música da zona austral: Gito Baloi.

A conversa entre Rosa Langa e Gito aconteceu nove dias antes do músico ser assassinado nas ruas de Johanesburgo, Africa do Sul. Foi uma entrevista de esperança em voltar a terra.

O artista foge a ideia de fama, mesmo sendo um dos nomes que brilhavam nos palcos sul-africano mas não queria assumir esse estatuto:

- A fama não é comigo, mas acho divertido e interessante quando noto que consigo arrastar multidões, isso dá-me prazer e mais inspiração de viver, fazendo coisas boas para os meus fãs e o meu povo de Moçambique.

Este trecho traz a ideia do que foi a conversa com Gito Baloi, um músico que esperava um dia voltar para partir de Moçambique e conquistar o mundo. No entanto a sua história não lembra a nenhuma de amor em que vivem felizes para sempre.

Se a com versa com Gito, lida hoje soa-nos a nostalgia por quem soube cantar na ku randza wena wansati wa ku xonga, algo como te amo mulher linda… escrevíamos que se esta nos leva a nostalgia, as outras nos despertam.


CIRCUNCISÃO

Entra para perguntas um quanto ousadas como a que faz a Stewart Sukuma:

- Tenho quase certeza de que estás lembrado quando é que perdeste a virginidade…

Ou a que faz quase invariavelmente a tantos outros artistas apresentados neste As Inconfidências dos Homens: Fizeste circuncisão?

Stwart é a primeira vítima, mas seguem-se outros como o músico português Rui Veloso:

-Não, não fiz circuncisão.

Depois seguem-se outros que são brindados por perguntas sobre intimidades. Podemos desvendar esta confidência de Chico António:

Com as prostitutas foi antes do meu casamento. Que fique bem claro.

Este livro pode ser visto como um baú de segredos onde arqueologicamente a jornalista Rosa langa vai nos desvendando os tesouros sagrados e… proibidos.


O QUE ELES PENSAM

Esquecer-se do convencionalmente correcto e se expor perante estes homens é a melhor aventura desta mulher que o jornalista Belmiro Adamugy saberia melhor a caracterizar:

“Rosa Langa, mulher pequena de estatura mas grande na alma”. É assim que fascina os seus convidados que faz questão de dizer logo: são todos eles meus amigos. E ao longo de livro se descobre essa camaradagem descomplexada com cada um deles. Como se fosse um encontro na mesa do bar ou, já que ela não bebe, numa sala para chá.

A melhor maneira de se saber o que os homens pensam ou sentem é folhear o segundo livro, depois de Moçambique, Mulher e Vida, da jornalista moçambicana Rosa Langa, natural de Chibuto, Gaza.

Pode se descobrir diferentes estrelas. Podemos enumerar?

Não, são muitos. Entre eles aparecem Carlos Lhongo, Bonga (de Angola), Victor José, Alexandre langa, Noel Langa, Ricardo Rangel, José Craveirinha, Francisco Mahecuane, David Abílio…

O prefácio é assinado por Mateus Katupha, antigo ministro da Cultura, Juventude e Desportos.

Legenda

1- Marcelino dos Santos: quero construir o socialismo em Moçambique

2- Gito Baloi: acabou o show e o regresso foi cancelado

3- Rui Veloso: não fiz circuncisão

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