novembro 07, 2008

MOREIRA CHONGUIÇA ...CIDADÃO DO MUNDO

PC Mapengo

Pode até ser lugar comum um artista dizer que sempre quis ser músico. Mas em alguns a frase soa como nova. Moreira Chonguiça podia até dizer isso e sustentar com o sonho de infância que era de fazer Direito Internacional, que foi substituído pela vontade juvenil de fazer música. É assim que viajamos por um mundo sem fronteiras através do seu Citizen of The World, o seu mais recente trabalho.

Evadimos fronteiras. Aliás, não se pode evadir o que não existe ou o que retiramos, só para não falarmos de uma resistência a invenção dos homens. Com Moreira Chonguiça, nos sentimos habitantes da margem como diriam os antropólogos, isto se acreditarmos que o céu é o limite.


Escolher Citizen of the World, algo como Cidadão do Mundo, para o título do segundo volume do seu Moreira Project é tomar posição. Ou melhor é não assumir posição, libertando-se para tocar saxofone nas noites das ruas da cidade de Cabo ou para estar em Maputo no final de uma tarde de Verão Amarelo, como aconteceu um dia antes do nosso encontro.


Quando falamos de sem fronteiras ou, se quisermos citizen of the world a música oferece esse estatuto e retira os limites. “Acho que não existem fronteiras em música. Ela é universal. Uma pessoa que não percebe a letra pode sentir e gostar da música”, diz Moreira Chonguiça.


Houve tempo para o recuo. Pousamos nos anos oitenta quando as rádios — a rádio para sermos mais exacto— era o palco das chamadas música ligeira. As festas eram dominadas pelos funks e outros estilos onde as letras eram, na sua maioria em inglês. Era a delícia nos tempos de carência como sublinharia Chonguiça. “Nos anos 80 havia música que não percebíamos mas não deixamos de gostar”.

O seu último trabalho é de crença. Algo como olhar para os limites e perguntar se não se pode ir para além deles. Se sobrar espaço para interpretações podemos faze-lo nos baseando na sua discrição do Citizen of The World.

“Este cidadão do mundo acredita em arte, em substância, em empenho, em sonhos em trabalhar duro e em ter mente aberta.”


A abertura da mente faz-se para além da nossa aldeia, ou então o conseguimos alargando as nossas fronteiras para formarmos o que já se convencionou chamar “aldeia global”. Como acredita Moreira Chonguiça isso pode se alcançar com uma abertura para novas experiências. “Tenho influências de todo o mundo.”


Voltamos a factos que ele os define como “história da humanidade” para recusar as fronteiras: “elas foram inventadas pelos homens, nem sempre existiram. Éramos nómadas, podíamos andar por toda a parte. Isso é história da humanidade.”


XENOFOBIA

Mas nem todos concordam com a teoria de “sem fronteiras”, se apegam a elas e usam da violência para defenderem os “seus territórios”. A xenofobia é o exemplo disso. Nas terras sul-africanas onde muitos jovens músicos moçambicanos foram conquistar os seus estatutos sobre as ribaltas das terras onde os seus antepassados deram sangue nas minas, a violência veio ao de cima. Mas esse não pode ser visto como caminho.

“Xenofobia é uma situação triste. Nós como músicos esperamos sempre que não se use da violência para resolver os factores que afectam o ser humano. Acho que a violência não é a melhor maneira de resolver um problema.”


E a música?

Ela, segundo Moreira Chonguiça pode ajudar a resolver. “No fim do dia o que fica é a música”, diz depois de sublinhar que “a mensagem está lá. Basta cantar encontra-se lá a mensagem. A música une as pessoas, as mulheres, os brancos ou chineses.”

MENSAGEM

Da violência Chonguiça abria espaço para falarmos da “mensagem que está sempre lá”. Parece que a posição não ganha unanimidade. Primeiro a questão de gerações e, depois, a de letras. Surge uma espécie de trincheiras com os mais velhos a falarem de “música sem conteúdo” e os putos defendendo-se com a teoria de “inveja das nossas oportunidades”.


De novo destruímos fronteiras.

“Temos de olhar para um aspecto. Se prestarmos atenção para as outras nações havemos de perceber que temos de ter cuidado com isto de nova geração e velha geração. São todos eles músicos. Não estamos a falar de partidos políticos onde há adversários, estamos a falar de som. Temos que parar de impor o que alguém deve fazer na sua música, isso não faz sentido.”


Falávamos assim de influências de idade, tempo, lugares e sonhos. “Se tu tens 18 anos o que te inspira é hip-hop. Nos outros países tens músicos jovens a fazerem colaborações com músicos mais velhos. Tens recriações de músicas antigas para atingirem os mais jovens”.


Se formos a falar de mensagens, entramos, segundo Chonguiça, para um campo de individualismos ou de gostos que não atinge aos autores ou intérpretes. “O problema da mensagem é seu. Pode dizer que não gostou mas isso não é para dizer a mim como autor.


Temos de tirar essa mentalidade. Esse dinheiro que se está a gastar em debates devia se dar aos músicos. Não há nada de mal MC Roger falar dos seus sapatos, se não gostas é só não ouvires.”


Antes do fim, podemos falar do futuro mesmo não sendo uma pessoa de planos como ele mesmo disse – “não sento para planear, sigo as minhas emoções”. Mas há coisas de que podemos esperar ou então… sonhar:

“Por ter nascido em Moçambique estou contente com o que está a acontecer com a nossa indústria musical, está a crescer e é bom que as pessoas falem desde que não haja violência. O meu sonho é daqui a 10 anos ver músicos empresários, milionários, ver estrelas com capacidade financeira”


Fotos tiradas (aqui)

novembro 06, 2008

1º Festival Cultural de Moçambique

Ricardo Riso enviou um email informando que a cidade de Brasília acolhe o 1º Festival Cultural de Moçambique, no Museu Nacional da República, de 6 a 9 de novembro.

O festival conta com mostra de filmes, exposições de arte maconde, de capulanas produzidas por Suzette Honwana, debates, mostra gastronómica, shows com o grupo Milorho e o jazzista Moreira Chonguiça e lançamento do novo livro de Calane da Silva, "Nyembête ou As Cores da Lágrima".

Moreira Chonguiça

Grupo Milorho